A NOVA CHAPEUZINHO
HORA
DO
ALMOÇO
NA FLORESTA...
MARIA HELENA CRUZ
PERSONAGENS:
LUCIANA:
Menina de gestos delicados, vestida com roupas que lembrem Chapeuzinho Vermelho, mas de outra cor;
JONAS RAPOSA:
Uma raposa esperta, esfomeada e muito medrosa.
LEILA:
A “Onça Rainha” da floresta;
CÉLIO O CERVO:
Um filhote muito animado e atrapalhado;
MÃE CORSA:
A presa favorita do caçador e mãe de Célio o cervo;
CAÇADOR:
Caçador maluco, sempre atrás de um troféu;
SÁBIO COBRA:
Uma cobra “sabichona”, que de sábia não tem nada;
MORCEGO JULIÃO:
Um morcego muito amigável e inteligente;
MÃE DE LUCIANA:
Carinhosa e “cozinheira”.
EMBORA HAJA NOVE PERSONAGENS, A PEÇA PODERÁ SER APRESENTADA COM ELENCO, A PARTIR DE 4 ATORES.
O CENÁRIO DEVERÁ, SIMPLESMENTE, LEMBRAR UMA FLORESTA.
Luciana, de cesto na mão, passeia pela floresta cantando, colhendo algumas flores:
“Alecrim, alecrim dourado
Que nasceu no campo
Sem ser semeado
Foi meu amor
Quem me disse assim
Que a flor do campo
É o alecrim
Alecrim, alecrim miúdo
Que nasceu no campo
Perfumando tudo
Alecrim do meu coração
Que nasceu no campo
Com essa canção”
LUCIANA:
- Ah, que dia mais lindo!- diz ela - Mamãe vai adorar as flores que colhi para enfeitar a mesa... – a menina põe a mão no ouvido, para tentar ouvir melhor - Hei... Que barulho estranho é esse?... Acho que ouvi outra vez... Essa não! Minha barriguinha está roncando feito um leão. Huuummm! Já deve ser hora do almoço e estou com uma fominha.
Uma voz misteriosa repete as palavras de Luciana:
- Huuummm! Já deve ser hora do almoço e estou com uma fominha!
A raposa dá um salto e se põe a andar sorrateiramente em torno da menina, que assustada, senta-se no chão e se encolhe erguendo o cesto para encobrir o seu rosto, perguntando:
LUCIANA:
- Quem é você e o que está fazendo aqui?
E a raposa responde:
JONAS:
- Ora, eu sou Jonas Raposa e “rei da floresta”, e a floresta é minha casa. O que “você” está fazendo aqui?
Luciana fica um pouco confusa:
LUCIANA:
- Mas eu nem sabia que havia rei na floresta.
JONAS:
- Pois tem e ele... Digo, eu é quem mando por aqui. Agora me diz, o que uma menininha como você, faz sozinha na floresta?
Muito educada, ela se apresenta:
LUCIANA
- Meu nome é Luciana. Eu vim à floresta para pegar flores. Vou levar para a minha mãe enfeitar a mesa para o almoço...
JONAS:
- ALMOÇO!? Isso me lembra que estou com tanta fome, tanta fome, que seria até capaz de comer uma menininha.
LUCIANA:
- AAAAAHHHHHH! – grita ela, correndo de um lado para o outro - Não, não faça isso senhor raposa! Você não pode me comer.
JONAS:
- É claro que posso! Eu sou o rei da floresta e no meu reino posso tudo...
LUCIANA:
- Sabe o que é senhor Jonas Raposa... É que minha carne é muito dura. O senhor não iria gostar.
JONAS:
- Que nada! Um filhote como você, deve ter a carne no ponto. Do jeitinho que eu gosto.
Ai, ai! A menina foge das investidas da raposa ainda tentando convencer:
LUCIANA:
- Mas senhor Jonas Raposa... Assustada como estou, minha carne já deve estar amarga, de tanto medo.
JONAS:
- Agora chega. Você será o meu almoço e pronto. Sou o rei e como tal, posso comer o que eu quiser e como eu quiser...
Então uma grande onça interrompe a conversa, parecendo muito irritada com o tal rei:
LEILA:
- Quem é rei da floresta?
Jonas se encolhe todinho... Muito amedrontado e tentando se explicar:
JONAS:
- Ehhh... Olá Leila, acordada há esta hora.
Leila, a onça, fala ainda bocejando e a passos preguiçosos:
LEILA:
- Acho que o lanchinho matutino não me fez bem, mas voltando as vacas magras, que história é essa de rei?
Luciana, muito esperta, se aproveita da discussão para fugir, enquanto os dois bichos continuam:
JONAS:
- Rei... Que rei??? Ora Leila, você entendeu errado. Eu estava dizendo que quem manda aqui na floresta, é nossa grande rainha Leila.
LEILA:
- Espero que seja isso mesmo ou então... Hei... Onde está a menina? Veja o que fez! Espantou meu almoço.
A fome acaba trazendo alguma valentia ao pobre Jonas:
JONAS:
- Seu almoço? Ela estava em minhas patas e “você” a espantou...
LEILA:
- Está brincando, não é? Uma iguaria como aquela só pode ser degustada pela criatura mais importante da floresta, ou seja, eu!
A raposa, faminta, tenta manter a valentia:
JONAS:
- Você? Ora, eu... – Leila se aproxima dele ameaçadoramente e ele... –... É claro... Esta iguaria só pode ser degustada por você, não é mesmo?
LEILA:
- Vamos logo! Vamos pegar meu almoço.
Não muito longe, Luciana perambula pela mata, muito assustada:
LUCIANA:
- Essa não! Fiquei com tanto medo e com tanta pressa de escapar daqueles bichos malucos, que acabei perdendo o caminho de casa. O que faço agora?
Ela se deita no chão, chorando de soluçar.
De olhos bem fechados, ela sente a presença de alguém. Uma mulher com um vestido longo e ares angelicais se aproxima de Luciana e afaga seus cabelos. A menina levanta a cabeça e a vê:
LUCIANA:
- Mamãe...
MÃE DE LUCIANA:
- Olá minha querida, por que chora tanto?
LUCIANA
- É que eu estava tão perdida, tão sozinha, com tanta fome e com tanto, tanto medo...
MÃE DE LUCIANA:
- Você não está sozinha... Não vê? Olhe ao seu redor. Há tantos amigos a sua volta! Você só precisa olhar com seu coração.
LUCIANA:
- Mas estou com tanto medo!
MÃE DE LUCIANA:
- Todos sentimos medo, mas não podemos deixar de seguir em frente, não é?
LUCIANA:
- Que bom que está aqui! Agora não estou mais com medo...
MÃE DE LUCIANA:
- Eu sempre estou aqui... - ela aponta em direção ao coração da menina e depois de seu próprio coração -... Da mesma forma que você sempre está aqui...
A mãe afaga novamente os cabelos de Luciana, que se deita no chão outra vez e fecha os olhos, depois some outra vez.
A menina está ainda soluçando, deitada no chão, com os olhos fechados, quando gritos desesperados, faz ela se levantar espantada. Procura que procura e acaba encontrando um animalzinho todo enrolado, preso em arbustos:
CÉLIO O CERVO:
- Socorro, socorro! Alguém me tire daqui, por favor. Socorro!
LUCIANA:
- Calma! Calma! Pare de gritar, que já tiro estas coisas de você...
Enquanto Luciana desenrola os arbustos do cervo, acaba se enrolando neles e antes que termine, ela ouve um estouro. Luciana pensa ser um trovão, olha para o céu e não vê uma nuvem se quer, e quando o estouro acontece de novo, uma corsa aparece e, correndo em volta das crianças, gritando em desespero:
MÃE CORSA:
- Célio meu filho, corra. Corra meu filho, corra.
A corsa vai embora, tão rápido quanto chegou, mas o cervo antes de ir, tenta desenrolar a menina, que não entende o que está acontecendo:
LUCIANA:
- O que está acontecendo? Tanta gritaria por causa de um trovão?
CÉLIO O CERVO:
- Que trovão que nada!- diz o cervo - O que vem vindo aí não é chuva não. É um caçador que está sempre pela floresta, atrás de nossas cabeças...
Antes que a menina pergunte mais alguma coisa, o cervo também se vai e um caçador surge à espreita. Os animais, atrás de árvores e arbustos, se encolhem para ficar ainda mais escondidinhos. A menina também tenta se esconder se embaraçando nos arbustos que tirou do cervo, mas não adianta muito. O caçador aponta sua arma para ela:
CAÇADOR:
- Mas que tipo de bicho é você?
Luciana, que está sentada no chão, com as mãos em volta dos joelhos e os olhos fechados, se mantém assim por algum tempo. Então abre um olho, depois o outro olho e, já se controlando, se levanta, sacode os arbustos de suas roupas, deixando apenas um ramo na cabeça, parecendo uma cabeleira verde.
CAÇADOR impaciente:
- Me responda logo. Que tipo de animal ou criatura é você?
LUCIANA:
- Não sou animal, nem “criatura” alguma. Sou só uma menina.
CAÇADOR:
- Menina, menina! Menina qual o quê! Não venha me enganar, por que comigo não vai ter vez. Conheço tudo na floresta e bem sei que meninas não ficam assim tão longe, dentro da mata...
LUCIANA:
- Pois sou uma menina sim e meu nome é Luciana...
CAÇADOR:
- Luciana, Luciana... Já sei. Com toda esta cabeleira verde... Você é o curupira... Agora sim Seu Curupira, nunca mais você vai me atrapalhar em minhas caçadas.
De “arma” (PODE-SE USAR UM MATERIAL SIMPLES COMO UM PEDAÇO DE MADEIRA, PARA NÃO SER ,UITO IMPACTANTE) em punho, o caçador, prestes a atacar a menina, ouve ruídos de animais ferozes. Muito medroso, ele sai correndo por uma trilha na mata.
Luciana, assustada, fica paralisada e muda no meio da confusão.
Pouco depois, Luciana está sozinha na mata outra vez e com seu cesto em mãos, caminha cabisbaixa.
Célio, o cervo, volta correndo e todo animadinho:
CÉLIO O CERVO:
- Que bom, que bom! O caçador se foi e agora eu posso brincar... Mas por que você ainda está triste?
LUCIANA:
- Como posso ficar alegre? Estou perdida, sozinha e com muita fome...
CÉLIO O CERVO:
- Perdida? Por que não me disse antes? Você tem que procurar o Sábio Cobra. Ele sabe tudo, sobre tudo.
A menina se anima toda.
LUCIANA:
- É mesmo? E você pode me levar até ele?
Agora é o cervo quem se acovarda:
CÉLIO O CERVO:
- Eu? Er... Bem... É que... Já vou mamãe. Olha, tenho que ir, mas se quiser encontrá-lo, é só seguir por esta trilha. Não tem como errar.
A menina segue a trilha indicada pelo amigo, mas antes que o cervo medroso vá embora também, ouve um grito desesperado, pedindo socorro:
MÃE CORSA:
- Socorro, socorro, socorro...
CÉLIO O CERVO
- Parece a voz da minha mãe... Mamãe, mamãe...
Ele entra pela floresta, tentando encontrar a direção dos pedidos de socorro, enquanto, em um lugar bem perto, a Mamãe Corsa tenta fugir, pedindo ajuda, com o caçador atrás:
LUCIANA:
- Agora sim. Finalmente consegui mais um troféu para minha sala. Haahahahahaaaaaa!!!
MÃE CORSA:
- Oh, não! Não faça isso Sr. Caçador. Sou apenas uma velha corsa e meu couro já está tão feio, que não lhe servirá de nada.
CAÇADOR:
- Engano seu Mamãe Corsa. Sua cabeça dará um troféu magnífico, pendurado em minha parede.
MÃE CORSA:
- Ora seu... Vai ver quando meus amigos animais pegarem você.
CAÇADOR:
- Não se preocupe, desta vez estou precavido. A mata está cheia de armadilhas. Logo haverá muitos outros, lhe fazendo companhia.
MÃE CORSA:
- Oh não!
CÉLIO CERVO:
- Pronto mamãe. Agora aquele caçador não vai mais se meter com a gente.
MÃE CORSA:
- Oh meu filho, que bom que você está bem...
CÉLIO O CERVA:
- Claro que estou bem, mamãe. Sou um cervo muito forte e valente.
MÃE CORSA:
- Mas que bobagem o que fez. Poderia ter se ferido, sabia? Estes humanos estão sempre fazendo maldades com alguém e não suportaria que acontecesse algo com você...
CÉLIO O CERVO:
- Mas mamãe! Tive tanto medo de que o caçador te ferisse...
Mamãe Corsa abraça o filhote bem forte e enquanto deixam a cena...
MÃE CORSA:
- Estou muito orgulhosa por ter um filhote tão heroico?
Luciana caminha assustada pela floresta.
A menina fica paralisada quando percebe que o Sábio Cobra se aproxima.
SÁBIO COBRA:
- O que faz aqui menina, está perdida? – diz ele, já demonstrando astúcia – Está precisando de ajuda?
LUCIANA:
- Sim, preciso muito de ajuda. Estou perdida, com medo... E estou com muita fome. Você pode me ajudar?
SÁBIO COBRA:
- É claro que posso, basta que eu lhe dê uma mordidela e...
Luciana se lembra do “Pequeno Príncipe” e se afasta.
LUCIANA:
- Ah, não, que essa história eu já conheço!Não quero saber de mordidelas.
SÁBIO COBRA
- Então, o que quer de mim?
LUCIANA:
- Tudo o que preciso é que mostre o caminho para minha casa, afinal, eu moro nesse planeta mesmo, aqui pertinho da floresta... Então? Vai me ajudar?
SÁBIO COBRA:
- É claro que sim. – diz ele, já indo embora - O caminho para voltar, é o mesmo que usou para chegar.
LUCIANA:
- Mas, mas, mas...
Já é tarde para que a menina consiga outra resposta, pois o Sábio Cobra já havia desaparecido na mata:
LUCIANA:
- E agora? Estou mais sozinha e mais perdida que nunca.
Alguém (com uma asa negra) passa por trás de Luciana e se esconde em um galho de uma árvore bem copada. Luciana, assustada, mas muito curiosa, vai até a árvore onde ele se escondeu:
LUCIANA:
- Quem é você?
MORCEGO JULIÃO:
- Eu sou o morcego Julião...
LUVIANA:
- AAAHH, um morcego!!!– ela grita e se encolhe de novo, com o cesto sobre o rosto.
MORCEGO JULIÃO:
- Não tenha medo, não vou te picar. Na verdade eu só como insetos e frutas. Não como meninas. Qual o seu nome?
LUCIANA:
- Me chamo Luciana... Eu... Eu não consigo encontrar o caminho para casa... E já é hora do almoço... E estou com muita fome... E dois bichos queriam me almoçar e...
MORCEGO JULIÃO:
- Ora, ora, mas quanto “es”! Fique calma, vou tentar ajudar. Consegue se lembrar de alguma coisa que viu no caminho pra cá? Algo que te lembre a direção de sua casa?
LUCIANA:
- Não. Estou com tanto medo que não me lembro de nada.
MORCEGO JULIÃO:
- Pense um pouco, deve haver alguma coisa?
LUCIANA:
- Não, não me lembro de nadinha.
MORCEGO JULIÃO:
- Não sabe onde fica sua casa?
LUCIANA:
- É claro que sei! Moro na cabana da beira da floresta e sempre caminho por algumas trilhas, procurando por belas flores. Mas hoje, uma raposa, e depois uma onça, apareceram e queriam me almoçar. Eu fiquei com tanto medo, tanto medo, que acabei indo floresta adentro e me perdi... Você pode me ajudar a encontrar o caminho para casa?
MORCEGO JULIÃO:
- Não sei, mas vou tentar. Vamos que já está na hora do almoço...
Os dois caminham pala mata, procurando a direção para a casa de Luciana.
Leila e Jonas ainda discutem.
LEILA:
- O que fazer? Não há mais nada que eu queira comer nesta floresta hoje e você ainda me faz o favor de espantar a menina, aquela rara iguaria.
Diz Leila, e imediatamente Jonas discorda:
JONAS RAPOSA:
- Eu, ora! Ela já estava no papo, quando você chegou e a deixou escapar...
LEILA:
- Eu a deixei escapar, seu... Espere, olhe isto.
Jonas também se anima com a descoberta de Leila.
JONAS RAPOSA:
- São pegadas de humano!
LEILA:
- Não. São pegadas daquela humana. Vamos, ela deve estar por perto.
JONAS RAPOSA:
- Que bom, quando a encontrarmos, teremos um banquete dos deuses...
LEILA:
- O que quer dizer com teremos?
JONAS RAPOSA:
- Ora, é claro que vamos dividir o almoço.
LEILA:
- Dividir? Pode esquecer. Ela será o meu banquete e pronto.
JONAS RAPOSA:
- Não seja egoísta, afinal, estou lhe ajudando muito com meus dotes de
caçador.
LEILA
- Ajudando, ajudando. Quem disse que preciso de sua ajuda? Só o que fez foi me atrapalhar... Agora chega de conversa. Vou atrás da menina, antes que ela consiga se afastar mais.
Perto dali, Luciana e Julião continuam em busca do caminho para a casa da menina:
LUCIANA:
- Essa não!- diz Luciana, desanimando-se - Voltamos para o lugar onde começamos.
MORCEGO JULIÃO:
- Tudo bem! Vamos tentar de novo. Só precisamos ficar calmos e vamos conseguir... Acho que tenho uma ideia! Pegue isto.
LUCIANA:
- O que vamos fazer com este cipó? Nos balançar de galho em galho?
MORCEGO JULIÃO:
- Não, não... Desta vez não. – ele enrola todo o “cipó” que encontra – Pronto, agora deixamos esta ponta aqui e assim, saberemos os lugares por onde já passamos.
LUCIANA:
- Que ótima ideia! Vamos logo.
Os amigos continuam a busca, certos de que desta vez conseguirão encontrar o caminho para a casa de Luciana, quando surge Célio, se enrolando todo no cipó.
LUCIANA:
- Oh não, Célio! O que fez?
CÉLIO O CERVO:
- O que fiz?
LUCIANA:
- Estávamos usando o cipó para marcar o caminho por onde já havíamos passado e agora vamos ter de começar tudo de novo.
CÉLIO O CERVO:
- Opa! É... eu... é... Já estou indo mamãe. – e o cervo sai de cena novamente.
Voltam a vagar, tentando encontrar o caminho, sem dar muita importância ao cervo atrapalhado, quando de repente, Jonas e Leila saltam na frente deles, Luciana se assusta, mas ao invés de se encolher como antes, cruza os braços em sinal de desafio e fala em seguida:
LUCIANA:
- Essa não! Não vou mais correr, nem me esconder. Estou cansada, com fome...Tanto, que nem tem mais espaço para o medo.
LEILA:
- Então... – Leila dá a solução - Posso acabar com tudo isso agora.
MORCEGO JULIÃO:
- Ora, mas porque querem comer a humana?
JONAS RAPOSA:
-E por que os humanos querem comer os animais?? – diz Jonas, levantando uma difícil questão - Queremos a humana por que estamos com vontade, ora!
Leila fica cada vez mais irritada:
LEILA:
- Chega! Estou com fome e estou cansada de tantas baboseiras... É hora do meu almoço.
A onça salta sobre Luciana, e Julião puxa a menina para o outro lado, deixando Leila cair em um monte de folhas.
Ela começa a gritar de dor e quando se levanta, está com uma armadilha de caça presa em uma das patas. Jonas se assusta com a armadilha dos homens:
JONAS RAPOSA:
- Hei, este lugar está ficando perigoso! Melhor eu me mandar.
Julião, comovido com o sofrimento do grande animal, tenta ajudar e puxa, que puxa, sem nenhum resultado.
MORCEGO JULIÃO:
- Oh não! Minhas patas são pequenas demais para arrancar a armadilha. Você vai ter que ajudar.
LUCIANA:
- Mas ela queria me almoçar...
MORCEGO JULIÃO:
- Ela está precisando da sua ajuda agora.
O Sábio Cobra se aproxima e todos, exclamam um: “Ooooohhh!”, com exceção de Luciana, é claro, pois ainda esta chateada com a resposta, ou melhor, com a falta de resposta anterior.
E a onça, grita que grita.
SÁBIO COBRA:
- O que está acontecendo por aqui?
MORCEGO JULIÃO:
- Acontece que a onça caiu em uma armadilha de caçador...
SÁBIO COBRA:
- Caçador? Corram, corram. Corram por suas vidas.
MORCEGO JULIÃO:
- Não Sr. Sábio Cobra. O caçador não está por aqui.
SÁBIO COBRA:
- Então, qual é o problema? Por que tanto berreiro?
Julião continua a explicação.
MORCEGO JULIÃO:
- Aqui está apenas a armadilha, que prendeu o pé da onça.
SÁBIO COBRA:
- Então, só o que temos a fazer, é retirar a armadilha do pé da onça.
LUCIANA:
- Sabemos disso, mas acontece que minhas mãos são muito pequenas para arrancar uma armadilha tão grande e a menina não quer ajudar.
Luciana tenta convencer.
LJCIANA:
- Como vou ajudar, se ainda há pouco, ela queria me almoçar?
SÁBIO COBRA:
- Ora, como vai ajudar? Com as mãos. Eu é que não posso, pois não tenho mãos! Todos deveríamos saber como é importante ajudar, pois a recompensa sempre virá.
O Sábio Cobra se vai novamente, deixando Luciana ainda mais brava com ele.
LUCIANA:
- Mas Julião, e se quando eu chegar perto dela para ajudar, ela me pegar e me almoçar?
MORCEGO JULIÃO:
- Mas se você não ajudar rápido, o caçador pode ouvir os gritos, vir capturá-la e depois...
LUCIANA:
- E o que é que tem? Ao menos ela não vai almoçar mais ninguém e depois que eu voltar para casa, será um bicho a menos para eu ter medo.
Leila, que se contorce de dor.
LEILA:
- Chega!...Uuuuiii, aaaaiiiii... Não quero saber da ajuda de uma humana... uuuuiiiii, aaaaiiiii... Se ela chegar perto de miiiiiim, aaaaiiiiiii.... Vai querer me fazer de troféu... uuuuiiii!!!
MORCEGO JULIÃO:
- Veja só! A pobre está com tanto medo quanto você. Estou certo de que não lhe fará nenhum mal.
LUCIANA:
- Mas...- Luciana ainda se recusa - Estou com tanto medo!
MORCEGO JULIÃO:
- Todos temos medo, mas não podemos deixar de seguir em frente...
LUCIANA:
- Parece que já ouvi isso antes, mas não consigo me lembrar onde...
Ela dá voltas em torno da onça, enquanto o bicho “berra” de dor, depois, se aproxima timidamente e acaba por se decidir. Pega a armadilha e com toda sua força, a arranca da pata de Leila. Dessa vez é a onça que se encolhe, lambendo a pata ferida. A menina começa a se afastar, mas Leila a chama de volta.
LEILA:
- Espere, não vá ainda. Conheço toda a floresta e posso te mostrar o caminho para a sua casa.
Luciana abre o maior sorriso e corre para dar um abraço na nova amiga, quando ele, o caçador, aparece novamente:
CAÇADOR:
- Ahá! Ora seu Curupira, não adianta mais se disfarçar. Sei que é você quem tem me causado tantos problemas, mas agora eu vou acabar com tudo isso.
Leila entra na conversa com ironia.
LEILA:
- E como é que pretende fazer tal coisa, sr Caçador?
CAÇADOR:
- Muito simples D. Onça, trouxe cá, comigo, uma peneira, com uma cruz marcada em cima e esta garrafa. Quando eu jogar a peneira em cima desse curupira, ele vai ficar fraquinho e pequenininho. Depois vou prendê-lo nesta garrafa e aí, todos os animais da floresta estarão em minhas mãos.
Julião primeiro o olha com espanto, depois se põe a gargalhar .
MORCEGO JULIÃO:
- Mas que coisa! Além de caçador, é tonto. Não sabe que peneira com cruz é armadilha para saci e não curupira?
LUCIANA:
- Além do que, já estou cansada de dizer que não sou curupira, sou só uma menina e...
Sem ao menos deixar a menina completar sua frase, o caçador lança a peneira sobre ela, e a peneira bate em sua cabeça e cai no chão.
CAÇADOR:
-Não pode ser! Como não funcionou?
LEILA:
- Não funcionou, não funcionando ora!... Agora você vai é se ver comigo, seu caçador de meia tigela.
A onça caminha na direção do caçador, muito brava e ameaçadora. Ele, tentando se afastar da onça acaba tropeçando e fazendo cair uma rede em sua cabeça. Desesperado, acaba pisando em outra armadilha, também posta ali por ele mesmo. Com muita dor, se senta no chão.
Luciana, Julião e Leila retiram a rede de cima dele. Assustado e ainda com a armadilha presa em seu pé, o caçador deixa a floresta aos gritos.
CAÇADOR:
- Essa não, essa não! Fiquei preso em minhas próprias armadilhas. Desisto, desisto. Nunca mais, nunca mais mesmo eu volto à floresta para caçar, nunca mais.
MORCEGO JULIÃO:
- Vejam só! Depois nós é que somos irracionais. Os humanos, com sua capacidade de mudar a natureza acabam criando “armas” para ferir os outros e nem se dão conta que, de uma forma ou de outra, são sempre eles, os maiores prejudicados.
LEILA:
- Ainda bem que nem todas as criaturas são assim!
LUCIANA:
- Hei! Os humanos, também não são todos assim. – protesta Luciana - Também temos consciência de que devemos proteger os bichos e as outras pessoas... Quer dizer... Alguns dae nós temos es
LEILA:
- Está bem, está bem! Ainda bem que alguns humanos também não são assim...
A menina dá as mãos aos amigos, Julião e Leila e cantam.
“Alecrim, do meu coração
Que nasceu no campo
Com essa canção
Foi meu amor
Quem me disse assim
Que a flor do campo é o alecrim”
Depois se apressa voltar para casa.
Luciana encontra sua mãe , trazendo uma panela e uma colher na mão e cantarolando um LÁ, LÁ, LÁ.
LUCIANA:
- Mamãe, trouxe as flores...
Diz Luciana toda animada e esfomeada.
MÃE DE LUCIANA:
- Filha, que bom que chegou e que lindas flores!
LUCIANA:
- Mamãe, não sabe o que me aconteceu!...
MÃE DE LUCIANA:
- Depois você me conta filha.Vá tomar um banho para depois almoçar.
LUCIANA:
- Mas mamãe! Estou com tanta fome... Posso almoçar antes?
MÃE DE LUCIANA:
- Desculpe filha, mas me aconteceram tantas coisas, que acabei atrasando com o almoço. Você vai ter que esperar...
Luciana olha para o céu e gesticula um
“fazer o quê”...
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